Este é um dos textos que compõem o livro Tramas e Enredos em Prosa e Verso para você apreciar.
Série: 9º ano Paz
Profa. Edinília Nascimento Cruz
Escola Estadual Professor Josefino Barbosa
GÊNERO TEXTUAL CARTA
Autora: Lidiane Oliveira Nunes
Itacarambi, 22 de Outubro de 2009.
Querido vovô Francisco,
Meu amado vovô, sei que não tivemos tempo para nos conhecer, mas mesmo daí do céu posso sentir sua presença. Escrevo-lhe esta carta para contar-lhe sobre o dia mais feliz da minha vida. Sei que será difícil acreditar, mas faz por mim este esforço.
Bom! Tudo começou quando estava de viagem com minha mãe para Petrolina, fomos de trem. Eu estava sentada perto da janela olhando as árvores e as montanhas correndo ligeiramente para trás. De repente, lembrei-me de você, e quando olhei para o céu vi algo colorido, bem colorido, caindo lá de cima. Olhei rapidamente para minha mãe, ia chamá-la, mas estava dormindo, então observei novamente no céu e lá estava aquele pedaço de pano caindo em direção ao trem.
Corri rapidamente para o fim do vagão, abri a estreita janela lateral do trem, e quando já estava caindo, na tentativa de o pegar, ele veio na minha direção e caiu dentro do trem. Agarrei-o. Era um tapete lindo, suas cores pareciam estar vivas, era uma verdadeira aquarela: verde, amarelo, roxo, preto, rosa, branco, azul. Fiquei observando por alguns instantes, estava muito assustada.
O que nunca imaginaria aconteceu: o tapete se levantou, e me disse:
- Oi!
Arregalei os olhos e sem saber o que dizer balancei a cabeça devolvendo-lhe o cumprimento. Perguntei quem ele era, se tinha nome, mas me disse que não se lembrava de nada.
Lá fora estava começando a escurecer e ficar frio, e para esconder e disfarçar o tapete mágico, envolvi-o em meu corpo como se fosse um agasalho, e fomos sentar. Sentados ali, o tempo passou e ficamos conversando sobre nós, nos conhecendo melhor.
Sem querer, deixei escapar a palavra Max, ele se levantou e balançando dizia querer ser chamado de Max. Já havia passado umas quatro horas de conversa, foi então que Max me fez o convite para sair voando com ele, e eu aceitei, é claro.
Saímos despistados para que a minha mãe não percebesse. Lá fora ele se estendeu em minha frente e pediu-me para subir, e saímos voando. No começo senti um friozinho na barriga, mas logo me acostumei. Sobrevoávamos a cidade, que por sinal estava linda, era véspera de Natal, as luzes enfeitavam as torres das igrejas. Max me perguntou onde eu queria ir. Disse que queria voar para o passado. Voltar no tempo. É lá fomos nós de volta ao passado. Não queria voltar bruscamente. Então, pedi-lhe que me levasse ao passado de um mês atrás.
Voltei à sala de aula. Chegando lá, entrei bem no momento da aula de português. A professora explicava e, quando entramos, percebi que não houve reação de ninguém, era como se não vissem a gente, como de fato não viam. Sentamos lá no fundo, nas últimas carteiras.
A aula estava interessante, a professora explicava sobre uma atividade, as diversidades textuais, gêneros textuais. A sala estava repleta de textos: poema, carta, conto, crônica, bula, etc. Os alunos praticavam leituras e produziam textos.
Senti-me tão inspirada quando a professora propôs aos alunos que produzissem um texto e, naquele dia, estava bem inspirada que produzi textos incríveis, escrevi, corrigi, reescrevi. E Max achava aquilo tudo uma loucura. E me disse:
- Os humanos são mesmo cheios de manias. Por que ficam escrevendo e reescrevendo o mesmo texto?
Foi nesse momento que senti vontade de escrever esta carta para você, vovô. Mas, que loucura! Fiquei em dúvida em qual gênero escrever, não sabia se escrevia um conto ou uma carta. Então pensei, vou fazer de um jeito diferente. E saiu desse jeito, uma história dentro de uma carta. Espere aí, qual vai ser o gênero deste texto? A professora já me disse sobre isso, acho que podemos por um gênero dialogando com outro.
Decidi voltar ao passado do passado. Que loucura, acho que já estou pirando mesmo! Desta vez voltei na época da minha infância. Avistei uma casinha em meio a um sítio. Na frente da casa uma mesa de madeira e duas cadeiras. Lá estavam você, vovô, e minha mãe. Vocês estavam lendo livrinhos e fazendo leitura dramatizada. O senhor lia sorrindo, mamãe cantando e juntos davam gargalhadas de felicidade.
Quando minha vó chegou com uma bandeja de bolo e chá, eu e o tapete sorrimos e voltamos a voar. Saímos conversando sobre família. O tapete foi voando vagarosamente, quase caindo. Então, percebi que ele estava triste. Perguntei o que havia acontecido, e ele me disse que não tinha família, não sabia nada de sua família.
Logo tive uma ideia de ir até a uma biblioteca e fazer uma pesquisa, procurar um livro para ver o que havia acontecido com a família daquele tapete. Procuramos em livros de história, num verbete de enciclopédia, árvore genealógica, nada.
Foi uma confusão total e resolvemos procurar um escritor que foi criado por outro escritor. David Copperfield, de Charles Dickens, poderia me dizer de onde o tapete saiu. Pedimos a ele para nos ajudar, assim que o encontramos, ele estava de folga descansando no museu de arte moderna. Ele então nos pediu uma carona e voamos para dentro das histórias dos livros de aventura. Pesquisamos e também não encontramos nada. Foi então que vi um livro fechado que ainda não tinha sido escrito. David falou que o tapete havia saindo de alguma maneira acidentalmente e encontrado o portal para o futuro e do futuro foi para o passado e acabou me encontrando e olha aqui ele entrando na minha história.
Olhando para nós, David explicava que, quando o escritor começasse a escrever o livro, aos poucos o tapete iria desaparecendo. Comecei a ficar triste, mas David me alegrou dizendo que aquilo já não iria mais acontecer porque o tapete já tinha entrado acidentalmente em minha história. O autor poderia escrever sua história sobre o tapete, e escrever um texto demora, não é tão simples assim, precisaria de concentração, coesão, coerência, correção. E além do mais, uma história pode ter várias versões, pois os textos conversam, dialogam entre si.
Despedimo-nos de David, saímos dos livros e fomos para a realidade. Realidade? Será se pode existir uma realidade dentro de outra realidade? Acho que sim. Sentamos em um lindo jardim e logo ali, do outro lado na Avenida Brasil, avistei crianças descalças, fumando e se drogando. A realidade é dura demais, e subitamente lembrei-me de minha mãe, da viagem de trem. Ela deve estar desesperada, deve estar imaginando que fui sequestrada, com tantos sequestradores por aí. Chamei o tapete que se refrescava no chafariz do centro de São Paulo e saímos em velocidade máxima em direção ao trem. Quando cheguei lá, minha mãe dormia como um anjo. Deitei-me ao lado dela, Max se debruçou do outro lado e agora éramos três anjos dormindo.
Sabe, vovô, a viagem está chegando ao fim, Não conte para ninguém este segredo, é só meu e seu. Cadê ele? Já se foi, o escritor o chamou, nem pôde se despedir. Será se um dia vou encontrar esse tapete em alguma história, em algum livro? Torça para que eu encontre esse tapete novamente, vovô. Quero encontrá-lo ainda este ano, quero ler uma história em que ele apareça. Beijos!
Com carinho, de sua neta
Lidiane.