TP4 - UNIDADES 13 E 14
Data: 13.06.2009
LEITURA E PROCESSOS DE ESCRITA
Inicialmente, relatei algumas considerações pertinentes ao empenho e compromisso de cada professor para garantir a qualidade do programa como atualização dos registros e organização do portifólio. Reforcei sobre a necessidade de fazer o estudo da TP, resolver as atividades propostas, não deixar que se acumulem para que não se percam e se sintam desestimulados.
Trabalho com 23 professores cursistas, porém percebo que alguns ainda não demonstraram o comprometimento que o GESTAR requer. Devolvi os portifólios com as considerações para que os professores analisassem e redirecionassem os pontos divergentes. Todos concordaram prontamente e aqueles que ainda não correspoderam se prontificaram a ter uma mudança de postura, o que me deixou mais animada para a continuação do trabalho.
Após este momento, iniciamos nossas dicussões e apresentei um vídeo com o tema “Ler Devia Ser Proibido”, baseado no texto de Guiomar de Grammon, que foi nossa janela para abrir o leque das discussões sobre o tema “leitura,escrita e cultura”. Fui levada a usar esse vídeo por estabelecer ele um paradoxo entre o texto e as imagens apresentadas, nas quais as grandes tansformações da humanidade ocorreram por meio de mentes instigadas pela capacidade de ler o mundo e o seu entorno e interfeir nele. Esse vídeo retrata bem a real situação de uma grande parcela dos estudantes brasileiros, o que nos faz concluir que ler já não precisa ser proibido. Já é habilidade facultativa, isso se comprova se depararmos com o número alarmante de analfabetos funcionais, ao não letramento.
A patir daí, iniciamos uma intensa discussão sobre o processo de letramento e a necessidade de desenvolver habilidades que tornem nossos alunos proficientes em leitura, especialmente na capacidade para atuar autonomamente na sociedade, que isso realmente deixe de ser uma utopia, que saia do papel e se torne presente em nossas ações em sala de aula. Sabemos que é por meio do letramento que se desenvolvem pessoas críticas e atuantes no meio em que vivem, como podemos exemplificar com este trecho do texto apresentado no vídeo:
- “Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verossimilhança. Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam, se todos se pusessem a articular bem suas demandas, a fincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista de sua liberdade.”
Passamos então a refletir sobre os usos e as funções da escrita nas práticas diárias. Cada cursita comentou sobre as atividades das seções. Foi um momento para discutirmos o tempo gasto e o usos permanentes da escrita em nossas atividades diárias, a quantidade de palavras usadas e o grau de formalidade necessário nas diversas situações de uso.
Distribuí alguns questionamentos para que os professores debastessem em grupo e depois socializassem:
1. Como você define letramento? Qual a relação que você estabelece entre letramento, alfabetização e escolaridade?
2. Como podemos relacionar letramento com as práticas de cultura local?
3. Somos todos letrados nesta sala? Vivemos em um país letrado?
4. Em sua sala de aula, que objetivos de leitura você trabalha preferencialmente e que material usa em cada caso?
5. De que modo o conhecimento prévio interfere na atividade de leitura e escrita?
6. O que você consideraria uma leitura ativa?
7. Onde está o significado do texto?
8. Você pratica letramento? Qual deve ser o papel do professor que trabalha na perspectiva do letramento?
Durante as dicussões, ressaltamos os depoimentos e as biografias de Patativa do Assaré e de Paulo Freire. Percebemos o quanto podemos abstrair dessa leitura de mundo e como é fundamental imbuir em nosso alunos a importância funcional da escrita e da leitura do nosso entorno. Enfatizamos a diversidade cultural, a valorização do conhecimento prévio, discutimos o "Ampliando nossas referências". Essas leituras e discussões nos fizeram confirmar sobre a importância dos textos e o conhecimento de suas funções para que o aluno desenvolva a tão esperada habilidade de tornar-se proficiente em leitura e escrita, ser capaz de ler o mundo e inserir-se nele.
Apresentei slaides sobre letramento e fiz uma explanação teórica abordando os seguintes pontos:
Letramento - você pratica?
Diferenciando letramento de alfabetização.
Um pouco de história.
O papel do professor-letrador.
Apresentei também um vídeo com o poema “O QUE É LETRAMENTO?” de Magda Soares, para que percebessem claramente o verdadeiro sentido do letramento.
Iniciamos então o segundo momento exposição dos relatos Lição de Casa e o Avançando na Prática, recolhi os registros e abri o espaço para os relatos. Foi o momento mais importante, porque os professores relataram o processo de seleção do Avaçando na Prática, respeitando algumas particularidades de cada sala e tomando o cuidado de amarrar com as atividades realizadas anteriormente de modo a garantir a sequência didática e a linearidade necessária para garantir que o aluno avance no seu aprendizado.
Como professora formadora, também desenvolvo as atividades e ao trabalhar a Seção 1 sobre letramento, o Avançando na Prática da página 31, senti-me extremamente motivada e com entusiasmo diante do desafio de colher informações sobre o ambiente letrado (da casa, escola, ruas, igrejas). Foi um trabalho maravilhoso. Os alunos fotografaram as fachadas, muros, colheram textos que circulam no comércio local, confeccionaram cartazes e relataram sobre as diferentes funções da leitura e da escrita. O desenvolvimento deste trabalho me fez fortalecer as crenças de que a educação ainda tem cura, basta usarmos o remédio certo na hora certa. Apresentei para os alunos imagens de pessoas lendo em diversos lugares e com objetivos específicos e depois solicitei que também colhessem em jornais e revistas imagens com pessoas lendo. Eles adoraram realizar essa tarefa e o fizeram com estusiamo, identificaram os diversos objetivos, confecionaram um painel visualizando as mais variadas situações de leitura.
A professora cursista Cássia desenvolveu um trabalho muito interessante sobre o processo inferencial da leitura. A professora Érica desenvolveu um trabalho enfatizando a cultura local - Festas Juninas, bem presente em nossa comunidade. Aproveitando a proximidade da data, os alunos demonstraram o conhecimento prévio sobre o tema e desenvolveram pesquisas, entrevistas, reportagens e confeccionaram convites. A professora Juliana realizou o Avançando na Prática da página 50 em uma turma do 6º ano, relatando ter ficado frustada, porque solicitou aos alunos que produzissem os convites para a Festa Junina a ser realizada na escola. Os convites foram produzidos mas, no momento em que propôs o uso real dos convites produzidos pelos próprios alunos a escola se recusou a usá-los. Nem sequer discutiu a sua reelaboração, nem houve um elogio aos alunos e nem uma justificativa cabível de modo a não causar frustação e sim estimular os alunos. Diante disso, fica a pergunta: - Queremos formar de fato alunos autônomos? Estamos dando oportunidades para que nossos alunos desenvolvam a escrita em sitações reais de uso da escrita?
Como disse Rubem Alves, a maior decepção da vida dele foi ter visitado uma escola em que havia lindos cartazes, belos cenários, tudo perfeito para dar iníco a um evento. Quando se aproximou dos alunos, todos comportadíssimos e as professoras orgulhosas, perguntou aos alunos se tinham sido eles que haviam confeccionado aqueles cartazes e eles em coro respoderam: - Não, foi a professora.
Em visita a outra escola, em que os cartazes não eram tão perfeitos, os alunos conversavam, debatiam, então ele perguntou aos alunos quem eram os autores daqueles trabalhos e responderam que foram eles próprios. Disse ele: - Esta é a escola com que sempre sonhei, sem imaginar que pudesse existir.
Essa é a Escola da Ponte, em Portugal, uma escola que encoraja o voo dos pássaros como reafirma Rubem Alves em seu texto ¨Gaiolas e Asas”: - Há escolas que são gaiolas para que os pássaros desaprendam a arte do voo.
O professor João Andrade desenvolveu um trabalho interessante da AA4, aula 1, uma estória curiosa, “Uriri e Bertolina”, apresentando textos dos alunos com a reescrita da história, com versões bastante interessantes. Essa atividade permitiu uma reflexão sobre o vocalulário e as variações linguísticas.
A professora Conceição também propôs uma pesquisa sobre as festas tradicionais, na qual pudemos ver a relação do letramento com as práticas de cultura local e como isso é importante para proprocionar a valorização das crenças e o repeito à diversidade cultural. A professora Eliene realizou um trabalho interdisciplicar com o professor de Ciências com bulas de remédio. Enfim, são muitos professores e todos contribuiram ricamente para o processo de leitura e processos de escrita de forma expressiva.
Diante desses e de outros relatos, percebi que a falta de apoio ainda é um problema expressivo para os professores dentro das próprias escolas. Torna-se necessário infomar à Secretaria Municipal de Educação para realizar uma reunião com supervisores e diretores a fim de debatermos sobre a importância dessa parceria e desse apoio tão necessário para que o trabalho se efetue de uma forma a focar que só há progresso na educação quando há parceria e comprometimento de todos. Fica envidente a necesidade de se discutir letramento, formação de cidadão crítico, porque, enquanto houver pessoas dentro do processo agindo contrariamente às propostas educacionais eficientes, temos pouco a fazer. Trabalhar em prol da melhoria da educação é tarefa de todos os envolvidos e não um capricho pessoal.
Em outro momento da oficina, realizamos a atividade com o poema “Cidadezinha Qualquer”, de Carlos Drummond de Andrade e apresentei um vídeo com um clip do poema, outro com uma encenação e outro com uma declamação. Os professores sentiram-se motivados a desenvolver as atividades. Dividi-os em quatro grupos (6º, 7º, 8º e 9º anos) e cada grupo elaborou e apresentou uma proposta de atividade para cada série específica. Foi um momento significativo em que as professoras Luciene e Fátima puderam expor a experiência com o trabalho realizado com base no poema.
Houve também questionamento sobre o fato haver muitos eventos na escola, e muitas vezes acabam atropelando o planejamento do professor. Muitos desses eventos são impostos e, na prática, não visam resolver uma situação problema detectada na sala de aula. Precisamos discutir, porque isso poderá dificultar o desenvolvimento dos projetos já elaborados pelos professores com base na proposta do GESTAR II para serem desenvolvidos nos próximos meses. Creio que será uma grande barreira, pois há uma conscientização quanto ao entendimento de que o trabalho precisa partir de uma necessidade do aluno e que projetos em grandes proporções podem não alcançar o objetivo esperado e podem tomar o tempo de trabalhar de perto as dificuldades dos alunos.
O Município de Itacarambi, por meio da Secretaria de Educação, tem se empenhado ao máximo para o bom andamento do GESTAR, possibilitando as cópias das AAS para os professores. É evidente que muita coisa já foi acertada, mas ainda há outras a serem ajustadas. Assim, esperamos que essas acões positivas reflitam na prática do professor em sua sala de aula, e que ele não se sinta sozinho, porque a caminhada é árdua e difícil, mas que este esforço se torne visível para a melhoria da aprendizagem desses alunos. Eles são a razão de tudo isso.
Concluo que as teorias bem pautadas têm possibilitado aos professores elaborar e executar bem as aulas e acredito que estamos no caminho certo. As sementes estão sendo plantadas, mas precisamos regá-las para que germinem em um ambiente favorável. Nossas vozes precisam ser ouvidas com mais seriedade, pois não podemos ficar falando ao acaso. Nossas palavras, desabafos, angústias não podem ser jogadas ao vento.
Edinília Nascimento Cruz – Professora formadora do Município de Itacarambi