quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

ARTiGO: PLANEJANDO UM CAMINHO POSSÍVEL DIANTE DO CONTRADITÓRIO



“Educação é isso: o processo pelo qual nossos corpos vão ficando iguais às palavras que nos ensinam. Eu não sou eu: eu sou as palavras que os outros plantaram em mim.”
(Rubem Alves)

A cada ano paramos para elaborar o planejamento e uma sensação muito forte começa a evidenciar dentro nós, “a certeza de que já havíamos vivenciado tal situação”, e a descrença de que tudo que estamos fazendo parece ainda ser insuficiente diante da realidade que vivemos. Em 2009 nos desdobramos, tentamos, inovamos, recriamos e, por fim, nos deparamos com uma imensa barreira que a todo custo insistia em nos cercar.

Em muitos momentos sentimo-nos sozinhos em nossa caminhada, desamparados e isso nos enfraquece. Diante de tantos equívocos há uma pergunta que não cala: A real finalidade de um planejamento não é garantir que todos aprendam? Na real situação em que a escola está organizada, isso está longe de se tornar realidade. Há muitas mudanças que precisam ser efetuadas, pois enquanto houver pessoas no meio educacional que não priorizam a aprendizagem dos alunos, não haverá essa educação teoricamente tão bela em nosso país como expressa na nossa LDB, já que na prática o que se vê são alunos violentados em seu direito de ter direito de aprender. O que dizer do óbvio que não é óbvio?

Como professora de Língua Portuguesa, todos os anos deparo com situações de alunos que, após um longo período de escolaridade, ainda não sabem ler e escrever de forma efetiva. Diante disso, recorremos à ajuda dentro da escola e, na maioria das vezes, tentam sair do problema revertendo-o como único e exclusivo nosso. A educação de fato só poderá se efetivar em sua pluralidade, com a participação e o compromisso de todos. Isso já era defendido por Paulo Freire. Como haver pluralidade se as reais intenções da escola não condizem com as reais necessidades e direitos de aprendizagem dos alunos e as intenções dos professores e o que eles esperam conseguir?

Lamentavelmente, não há sintonia entre as partes e o que se vê é o alto preço do fracasso que vem se revelando a cada ano, fazendo com que nos sintamos oprimidos dentro do nosso próprio saber e do nosso fazer. Há muitas contradições, mas, diante de todas elas, a mais dolorosa é a de nós nos calarmos diante dos absurdos que descortinam a nossa frente. Professor é aquele que acredita que ainda há algo a fazer, que ainda há o possível diante do impossível. Na há realidade impossível de ser alterada. Cabe-nos convocar os alunos a também refletir e redirecionar os passos para outras realidades.

O planejamento deverá ser necessariamente pautado no resgate dos excluídos por meio da capacidade de ler o mundo e fazer dele um lugar em que a educação se efetive como prática de se fazer da linguagem um instrumento de poder e de transformação social. Ter domínio da linguagem e usá-la sem medo da opressão faz muita diferença, pois língua é sinônimo de mudança, interação e transformação. Queremos a transformação necessária e fundamental para que frase como esta não se repita: - “É péssima a qualidade do nosso ensino.”

E, para tanto, o primeiro passo é a conscientização de que temos que admitir que esse é um fato que diariamente ronda os pensamentos daqueles que estão insatisfeitos com a real situação da educação. Mas há muita gente no meio educacional que insiste em mascarar a realidade, e isso só evidencia a estupidez de que há muita gente atuando na educação, que jamais teria mérito para estar lá.. E são pessoas assim que, lamentavelmente, têm contribuído para que cada vez mais a educação se afunde em nosso país.



Edinília Nascimento Cruz