domingo, 25 de outubro de 2009


TAPETE MÁGICO


Edinília Nascimento Cruz

Todo professor sonha poder um dia acordar e encontrar na sua frente um tapete mágico que possa transportá-lo para além do infinito e lá poder ele renovar suas esperanças, criar novas expectativas, e conduzi-lo ao mundo dos sonhos.


Era uma vez, em uma tarde de início outono, lá estava eu, desanimada, entediada da vida. Corrigia as produções textuais dos meus alunos e, repentinamente, fui convidada para ir receber um tapete. A princípio tive receio, não sabia e se soubesse não teria acreditado que se tratava de um tapete diferente. Não era um tapete qualquer, era um tapete mágico.



Os dias se passaram e descobri que esse tapete era mesmo diferente. Era colorido e bordado com as cores da esperança. Veio todo embalado e quando o abri, logo percebi que havia cravado nele o nome GESTAR.


Junto com o tapete também recebi as ferramentas de que precisava carregar junto para que de fato a magia do tapete pudesse funcionar. Eram as TPs e as AAs. Juntei tudo, arrumei a mala e num piscar de olhos já estava em pleno voo. A decolagem foi recheada de medos, incertezas. Embarquei para uma viagem com muitas escalas, encontros, oficinas, diálogos, partidas e chegadas.


Nas primeiras horas de voo percorri toda a TP3, uma chuva de gêneros textuais caiu sobre minha cabeça, emanando discursos, nas várias linguagens. Era o mistério da língua e da linguagem em sua plenitude.




Foi fantástico, fiz um voo magnífico pelo universo dos textos, imaginem vocês. Foi nesse momento que vi minha viagem emplacar. É possível sem ter asas voar? E com a imaginação em outros lugares chegar? O GESTAR nos leva a campos fecundos. E com ele os saberes foram gestando. Logo estava fecundada, engravidei-me de expectativas, havia ultrapassado os limites de meu próprio mundo.





Entre um voo e outro, uma TP e outra, lá estava eu fazendo escala na sala de aula. Podia levar o tapete para as mais diversas direções e a bordo agora estavam meus alunos. Então, escolhi o caminho da leitura, dos diálogos e foram tantos avançando na prática. Amarrei o tapete na cauda de uma estrela. E lá do alto víamos juntos, leitura distante, o mundo pintado de poesia, alguns alunos sedentos de diálogos de aventuras, outros acharam aquilo uma loucura. Mas juntos descobrimos que as aulas podiam ser uma verdadeira doçura.



Vimos leitores nas janelas, nos quintais, nos portais, vimos textos pendurados em castelos, vimos manchetes estampadas nos jornais e nossa vida se enchia das cores e das dores que pintam a vida vivida e sofrida, lida e relida.





Voamos para um mundo do qual podíamos avistar no verde capim a cor da esperança. Sobrevoamos o vento, descobrimos mistérios. Nas telas estreladas do céu líamos a mágica de viver a vida. Penduramos nossos sonhos. Distribuímos panfletos, implorando para que olhassem com mais respeito para a educação. Não queremos viver na omissão, no descaso, na solidão. Até quando teremos que viajar na contramão?

E que campos fecundos são as TP4, TP5, TP6, TP1 e TP2 de saber, de viver, de aprender, de compreender, de reconhecer. Em cada parada o diálogo se estabelece. Alçava-se o céu, o infinito, a liberdade, lá estava o letramento tão essencial, tão fundamental, era necessário refletir, pensar e concluir, buscar os melhores caminhos para formar leitores. É preciso ler as nuvens, ler o vento, ler as ondas, ler na educação a solução e ler no GESTAR a possibilidade de transformação, de troca, partilha e doação. Era preciso planejar, replanejar estratégias de leitura, encontrar. Emaranhar-se nos múltiplos diálogos. Eram muitos assuntos a tratar. Intertextualidade, variedades linguísticas, gramática e estilística. Então era preciso voar, voar, voar. Era preciso buscar a sombra, o silêncio a solidão. Era preciso cheirar, tocar, provar, bailar, pois estava na hora de acordar, procurar, tentar e uma melhora buscar.




E por lá, em companhia dos professores cursistas, atravessamos plagas, sobrevoamos pedras e também espinhos, recebemos olhares, recebemos apoio e também carinho. Descobrimos que não viajávamos sós. Queríamos produzir, olhar, sentir, experimentar, cheirando as cores, tocando os sons, ouvindo os gostos, olhando as sensações, saboreando as palavras, descobrindo o inusitado em meio aos canteiros e não permitimos que os pessimistas impedissem que buscássemos o sabor do vento. Queríamos impedir a sinestesia da vida em desalento.


Vi estrela despencar do céu. Não podia deixar que a descrença na educação tirasse a minha vontade de buscar, inovar, tirar-me o esplendor das manhãs. Não podia me cegar, não podia estacionar, queria aperfeiçoar, pois creio que um dia a alegria no céu irá pairar.





Viajar nesse tapete mágico para mim é reconhecer todo o esforço feito na construção do meu próprio conhecimento. Na busca pelo saber, querer. Tudo é legítimo e digno. Senti-me feliz ao perceber que ainda há um longo caminho, por mais longa que tenha sido a estrada trilhada. Sinto um grande desejo de posseguir. Educar é a arte do coração e é por isso que um bom educador precisa de vocação e valorização para amar a profissão.


A viagem está chegando ao fim, mas a magia irá continuar, porque seu cheiro emana e me deixa inebriada, minha alma está mais leve. Sensação de êxtase, raízes que ficaram no chão dessa imensidão chamada educação. Está na hora de aterrissar, mas esse voo nunca chegará ao final. A cada leitura uma nova viagem, vamos construindo, desconstruindo mundos possíveis. Eu, você, o tapete e uma fome imensa de novos caminhos trilhar e com o olhar no futuro viajar, viajar e viajar.

2 comentários:

  1. Que lindo! Que belo! Que emocionante!!!

    Gestar palavras, engravidar-se de ideias, dar luz à uma educação renovada, pronta para a prática e a interação solicitada pelo estudo das linguagens...

    Como sempre, Edinília, as palavras fluem, emanam, dissipam-se... Parabéns pela magnífica construção!

    Um abraço apertado.

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  2. Lindo texto!
    Emociona, leva à reflexão. Uma forma especial de descrever nossas ações, sentimentos e conquistas frente ao GESTAR.

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