REPENSANDO A PRÁTICA ATRAVÉS DA TEORIA
Memorial apresentado à professora Tamar Rabelo – Programa (GESTAR II) Gestão da Aprendizagem Escolar
INTRODUÇÃO
Por meio deste Memorial, farei um breve relato de minha vida acadêmica, refletindo vivências, medos, incertezas, vitórias e derrotas que ao longo dos anos têm feito parte de minha trajetória, fatos que objetivaram todo meu caminhar no processo aprender a ensinar. E parafraseando Magda Soares em seu livro “Metamemória-memórias: travessia de uma educadora”... tentei não apenas descrever minha experiência passada: tentei deixar que essa experiência falasse de si, tentei pensá-la...” ( p.15)
Muitas foram as vozes que contribuíram e participaram, direta e indiretamente, na minha formação, vozes tão silenciosas como Paulo Freire e Rubem Alves e vozes que não se calam como as de meus alunos e colegas de profissão. Assim, todos estes falares refletiram e refletem sobre minhas experiências e sobre meu desenvolvimento pessoal e profissional.
Esboçarei sobre crenças e verdades, sobre ser professor em meio a rememorar eventos vividos por meio de um processo crítico de reflexão e através dele compreender o método de aprender a ensinar. Neste discurso biográfico examinarei os movimentos de construção que, através do tempo, compartilharam para edificar uma história de experiências que culmina na produção de um novo conhecimento a partir da interação.
PRIMEIROS PASSOS...
Quando ingressei na vida acadêmica, não tinha um firme propósito sobre minha verdadeira trajetória profissional. Quanto optei pelo curso de Letras em 1998, na UNIMONTES – Universidade Estadual de Montes Claros, estava cheia de ilusão de que o fato de estar ingressando nesse curso não tornava certo que necessariamente seguiria a carreira de professor. Sempre tive um caso de amor com a literatura, mas não admirava o ofício de ser professor. Ao contrário, trazia fortes marcas de desilusão e desventuras em função de algumas práticas de educadores que tive durante minha formação primária e secundária.
Quando entrei para faculdade, assim como muitos de meus colegas, defendia o discurso de que não estávamos ali para seguir carreira de professor, pois sonhava em trabalhar na área da pesquisa. Acreditava, entretanto, que o curso me possibilitaria atuar de forma a desenvolver a capacidade de análise, criatividade, senso crítico, estético, expressivo e reflexivo acerca das linguagens e suas tecnologias, realizar pesquisas nos diversos campos de estudo das linguagens além de desenvolver trabalhos técnicos de revisão e tradução.
Com o tempo, muitas dessas ambições foram frustradas, pois boa parte da carga horária do curso era voltada para a docência e, com o tempo, o velho discurso deu lugar ao novo e não tínhamos muitas escolhas. A partir de então, mergulhei no objetivo de tornar-me uma educadora diferente daquelas que tive e determinada a investir para que não me tornasse uma profissional frustrada.
Ainda durante a graduação tive a minha primeira experiência como professora numa escola carente de zona rural desprovida de tudo. Foi nessa escola que percebi que podia fazer algo para ajudar aquelas pessoas e que muito poderia aprender com elas. Cresci muito, especialmente no aspecto humano, tornei uma pessoa mais sensível e passei a perceber a vida de uma outra dimensão e, de lá para cá, aprendi a gostar dessa profissão tão árdua, mas também tão gratificante.
Concluí minha graduação em 2001 e, naquele mesmo ano, prestei concurso para professor de Língua Portuguesa nas redes estadual e municipal de educação, tendo sido aprovada e iniciado minha carreira como docente (no nível fundamental e médio) e até hoje continuo atuando. Entre muitas teorias e práticas, fui descobrindo que a escola vai muito além de possíveis conteúdos programáticos de ensino, mas é também um espaço de formação humana. Assim já dizia Paulo Freire e continua sendo o discurso proferido por Rubem Alves.
EDUCAR: UM MERGULHO EM SI MESMO
Fiz minha especialização latu sensu em Literatura e Linguística Aplicada ao Ensino de Língua Portuguesa no ano seguinte à minha graduação e, ao longo desses anos, tenho me especializado na área de educação. Sei, porém, que há ainda muito a aprender e a fazer. Atualmente minha maior prioridade é realizar meu Mestrado, minha grande meta para este ano. Estou apostando na modalidade a distância para que isso se torne uma realidade.
Durante meu curso de Pós-graduação, dediquei-me à pesquisa sobre a linguagem em suas múltiplas manifestações e realizei o meu primeiro trabalho científico nessa área do conhecimento. Escrevi minha Monografia sobre essa temática. Nessa pesquisa, procurei buscar algo daqui do meu contexto e relacionado à linguagem. Abordei assim o patrimônio arqueológico da minha cidade, que está entre um dos mais ricos do Brasil, o Parque Nacional do Vale do Peruaçu e realizei um trabalho que deu origem ao livro “A Linguagem Pictográfica nas Cavernas do Vale do Peruaçu”, publicado em 2004 pela Editora UNIMONTES, que ganhou vasta representatividade junto aos órgãos do IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e do IBAMA – Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis e também na Universidade na qual me graduei.
Preocupada com a melhoria da qualidade de meu trabalho junto às escolas públicas da cidade de Itacarambi-MG, onde trabalho com as disciplinas de Língua Portuguesa e Literatura, decidi investigar as causas do baixo rendimento dos alunos e a sua falta de perspectivas, além da desmotivação e do desinteresse pela leitura. Desenvolvi alguns projetos nessas áreas. Dentre eles, realizei uma ampla pesquisa sobre o processo de formação de leitores, que deu origem ao meu segundo livro “Histórias Infantis e Formação de Leitores”, também editado pela Editora UNIMONTES, em 2006, que surgiu movido por duas paixões: às histórias infantis e à leitura. O livro propõe uma discussão e reflexão sobre o tratamento dado à leitura, tanto no contexto escolar como social. Este livro deu origem a um projeto de intervenção na Escola Estadual Professor Josefino Barbosa, onde leciono, que gerou o livro “Nas Margens do Rio e do Papel”, também editado pela Editora UNIMONTES, em 2006, que é uma coletânea de contos, poemas e crônicas produzidos pelos alunos envolvidos nesse projeto. Os alunos tiveram como fonte inspiradora o Rio São Francisco que banha a cidade de Itacarambi.
Ainda no que concerne a minha produção bibliográfica, em 2008, a Editora UNIMONTES publicou meu terceiro livro, intitulado “Interlúdio”, romance ficcional que me tem dado inspiração para continuar escrevendo. Escrever para mim tornou-se uma grande paixão, algo prazeroso e motivador, desejo este que surgiu devido a minha grande inspiração em grandes clássicos da Literatura Brasileira e Universal. Não tive tempo para dedicar-me a uma produção bibliográfica mais numerosa, mas pretendo escrever muito ainda.
Com relação à minha experiência no ensino superior, como professora local do curso de Letras do Polo de Itacarambi desde 2007, atuo ativamente desde minha admissão em março daquele ano. Foi meu primeiro contato com estudo a distância e, a partir de então, pude perceber o quanto essa modalidade de ensino tem ampliado e possibilitado a oportunidade de formação em um curso superior para um universo amplo de pessoas.
A educação a distância, ao longo de sua trajetória, tem alcançado resultados favoráveis, tanto em países industrializados quanto nos emergentes, em diferentes áreas: alfabetização e educação de adultos, cursos de atualização e de reciclagem, cursos profissionais, treinamento em serviços, educação básica, superior e ensino de pós-graduação: especialização, mestrado e doutorado e qualificação de professores. O ensino a distância é um grande potencial para o desenvolvimento de programas de capacitação e qualificação de professores. No Brasil, há diversas experiências pontuais nesse sentido e os resultados atingidos têm colaborado para a melhoria da qualidade do ensino. Entretanto, há de ser registrado que os docentes, com exceções, apresentam resistência em relação a qualquer inovação ou uso da tecnologia educacional.
CONCLUSÃO
Ser educador no século XXl é transpor barreiras, superar limitações. Apesar das críticas, do descaso que nossos governantes têm dado à educação, da falta de incentivo, de investimento, de consciência para questões da qualidade da educação, sentimos um grande vazio que vem de fora, mas que dentro da nossa alma de educador nos parece estar preenchido, quando temos plena convicção de que tentamos e de que estamos dando o melhor de nós. Há dias em que o silêncio é grande, são infinitas questões que não calam, elas começam sobre o sentido da educação e terminam com a finalidade da existência humana. No íntimo de nossas angústias, na solidão dos sonhos, surge a esperança de que um dia tudo vai melhorar.
Sempre busquei aperfeiçoar-me, gosto de inovações, de me reciclar e essa o GESTAR muito me auxiliará para o aperfeiçoamento de minha prática pedagógica. A cada dia, sinto-me mais preparada e ao mesmo tempo percebo a necessidade de buscar sempre mais conhecimento. Quero aprofundar meus estudos na área de educação a distância por ser o modelo de educação do futuro.
A alma de um educador não pode ser uma sala vazia e mesmo depois que todos se forem é preciso pendurar os sentimentos nas paredes. São infinitos quadros de esperança, fé e amor e quando me sento sozinha nesta sala e me recolho sou capaz de respirar e trazer tudo isso para dentro de mim. Nesse interior humano, repleto de vivência, as derrotas, as lembranças se mesclam com sabor de vitória. O prazer de mergulhar no passado, seja ele de poucas horas, e perceber que tudo valeu a pena, preenche a alma de irisadas cores.
E ao finalizar este Memorial, sinto que a realização pessoal é o maior prêmio de um educador, porque, partindo deste princípio, ele tem convicção de que algo bom ele deixou em sua trajetória: o sentimento de saber que contribuiu para tornar real e preciosa as próprias ações, de poder continuamente contribuir para a transformação do mundo.
Voltar à sala de aula para mim é reconhecer todo o esforço feito na construção do meu próprio conhecimento. As dificuldades enfrentadas dia após dia, as dificuldades financeiras para me aperfeiçoar por meio de uma especialização, a ambição pelo saber, tudo é legítimo e digno. Sentir-me feliz ao perceber que há caminho, por mais longa que tenha sido a estrada trilhada, é sentir um grande desejo de prosseguir. Educar é arte do coração. No coração de milhares de professores, assim como no meu, brota a esperança sempre renovada, realimentada de construir uma geração de seres humanos livres e criativos. Eis a nossa vocação. Eis o nosso ofício.
Plamas, palmas e palmas, seu texto é belissimo! Não poderia perder uma preciosidade dessa!
ResponderExcluirQuando lia a sua história, entre as lágrimas os sorrisos de emoção, uma sequência de imagens veio a minha mente: desde aquela professorinha humilde falando de como era Rubens Alves em sua sala de aula e tantas outras que não vemos, pois a mídia não lhes dão projeção, mas que sabemos que o seu discurso ecoa nas muitas vozes que lemos e ouvimos...
De fato precisamos invstir na decoração da nossa sala, não podemos deixar as paredes vazias quandos todos se forem|!
Amei sua história e é por histórias como a sua que ainda acredito na educação, no potencial de mudar pessoas, uma vez que o verdadeiro educador é aquele que prima pelo desenvolvimento constante do ser humano.
Não sei se acredito que lagum dia algum governante irá tomar partido pela educação no Brasil, mas tenho certeza, que mesmo em detritimento a tudo que é o ideal em educação, fazemos uma enorme diferença na vida dos nossos alunos.
Um grande abraço
Tamar
Belas palavras, linda e emocionante história, maravilhosas imagens!!!
ResponderExcluirQue bom ver que você não só construiu textos, teses e discursos, mas principalmente (re)construiu o que você acreditava ser professor e o que você se propôs ser.
Como diz Rubem Alves, você aprendeu a separar a caixa de brinquedos da caixa de ferramentas e usa cada uma no instante preciso.
Parabéns!
Um abraço.
Assino com letras enormes e reitero as palavras de Tamar.