Paulo Freire
Nós professores somos responsáveis por tarefas fundamentais. A missão do professor não é apenas ensinar a ler, a escrever e a contar, mas de ensinar a questionar a própria realidade e nela inferir.
A oficina realizada dia 12/09 foi mais um momento de consolidação do Gestar e reafirmação do nosso processo de gestação de uma nova prática de ensino. Estamos gestando experiências, trocas e partilhas. O Programa Gestar já faz parte da realidade dos cursistas, pois as atividades que eles aplicam com os alunos estão mostrando a diferença. Os resultados aos poucos estão surgindo. Desta forma, o curso está trazendo benefícios a toda a comunidade escolar.
Foi um encontro preparado com muito critério e, para sinalizar o momento que estamos vivenciando, apresentei a fábula de Rubem Alves “Os Sonhos dos Ratos” e o texto de Marcos Bagno “País emergente, educação submersa”, que nos permitiram fazer uma leitura reflexiva sobre a educação no contexto e no parâmetro do mundo atual.
Como vem salientando Rubem Alves, a escola não está ensinando o aluno a pensar. O objetivo da educação é ensinar a pensar, mas na prática ainda há muitos educadores arraigados a velhas práticas de ficar apenas dando informações, transmitindo conteúdos. Precisam urgentemente repensar uma prática que leve os alunos a pensar, pois o saber sem o pensar é inútil.
Propus aos professores cursistas que fizessem uma reflexão sobre caminhar dentro do Gestar, apontando as oportunidades, forças, fraquezas e ameaças, que resultou em um debate para juntos podermos fazer as interferências necessárias diante das fraquezas e ameaças, e nos solidificarmos com as oportunidades e forças. A partir de então, percebemos a necessidade de lançar novos olhares que mostram a produtividade do diálogo entre conhecimento e desconhecimento, que percebem todo ponto de chegada como indício de novos pontos de partida, sendo ambos marcados pelos erros e acertos, num processo contínuo e desafiador. Desafio inscrito na necessidade, possibilidade humana de sonhar utopias e tecer coletivamente trajetos para torná-las realidade.
Nesta oficina tivemos um momento propício para discutir e argumentar sobre o papel do professor, já que o assunto em foco da unidade 21 da TP6 é a argumentação. Como desenvolver a argumentação e a criticidade em nossos alunos? No contexto atual, nós professores precisamos mostrar para os alunos a argumentação como algo natural muito presente em nossa vida, pois é nestas horas que ensaiamos falas, resolvemos problemas pessoais e coletivos, levantamos hipóteses, fazemos planos, sonhamos, e todos estes casos trazem as marcas dos nossos pontos de vista, dos nossos interesses. Pesamos os prós e contras, decidimos, agimos de acordo com nossos benefícios e valores. Agindo assim, estamos possibilitando nossos alunos a atuar de forma crítica e reflexiva como propõe a LDB, e assim contribuir na construção de um mundo melhor.
Não pretendemos consertar o mundo, mas compreendê-lo, porque a vida é indivisível, e neste dialogo que nos alimenta, aprendemos a acreditar em um mundo mais humano, mais justo e mais digno, em que todos possam encontrar alimento para o corpo e para a alma, neste universo de múltiplos diálogos.
Procurei salientar que o trabalho na sala de aula com a argumentação deve iniciar sempre com uma proposta que direcione o educando a argumentar sobre sua própria realidade, seus desejos, anseios, angústias, para que se sintam mais estimulados. Um dos maiores problemas hoje é ensinar o aluno a pensar, questionar, indagar, exercitar sempre suas reflexões e argumentações. O aprendiz precisa de se sentir estimulado para compreender o porquê de cada coisa, bem como a forma como esse conhecimento será empregado em sua vida.
Refletimos sobre os questionamentos do texto ampliando nossas referências, discutimos os diferentes tipos de argumentos e ressaltamos que nenhum ato de comunicação é neutro. Mesclando entre teoria e prática, os professores cursistas foram expondo suas experiências com a aplicação do avançando na prática em sala de aula. Alguns expuseram dificuldades em trabalhar argumentação com alunos do 6º e 7º anos, mas intervim argumentando que o tempo todo esses alunos já fazem uso da argumentação, mesmo sem se dar conta disso. O que precisa é estimulá-los a fazê-lo de forma consciente.
Passando para unidade 22, “Produção Textual: planejamentos e escrita”, propus uma dinâmica que possibilitou aos cursistas refletirem sobre a importância do planejamento e da contextualização. Atentamos para a importância do planejamento em tudo que fazemos em nossa vida, especialmente sobre o planejamento que se faz necessário ao produzir um texto. Não houve tempo para nos aprofundarmos nas discussões, porém continuaremos na próxima oficina de forma enfática e detalhada.
Na parte final do encontro, os professores realizaram a atividade prática proposta na TP, a produção coletiva e desenvolvimento da crônica “Espírito Carnavalesco”, de Moacir Scliar, observando o planejamento e a revisão. Os grupos fizeram a exposição oral sobre os procedimentos adotados no planejamento da escrita do final do texto e fizeram a leitura e, logo em seguida, li o final do texto original.
Nesta oficina, tivemos a participação das acadêmicas do curso de Letras da UNIDERP Interativa e a visita da supervisora pedagógica do Gestar, Gislene, que fez a entrega das provas diagnósticas para os professores e, juntamente com ela, expus aos cursistas o objetivo da prova diagnóstica e os procedimentos para sua aplicação. Em tempo, combinamos para o sábado seguinte (19/09) uma oficina extra, específica sobre avaliação, para consolidação e análise dos resultados.
Finalizamos com a avaliação do encontro e reflexões sobre nossos trabalhos realizados na oficina e questionei sobre o que eles achavam que deveria ser mudado quanto ao direcionamento do meu trabalho. As manifestações foram favoráveis aos métodos que utilizo, o que me motivou a continuar me dedicando cada vez mais, pois minha maior satisfação é saber que estou realizando um trabalho que está sendo útil para o crescimento de outro. Tenho procurado compartilhar minhas experiências positivas com os cursistas.
Para concluir este relatório, quero expressar algo que tem se manifestado em todos os encontros por meio das vozes dos cursistas e me incomodado e entristecido muito: é a falta de apoio e parceria de alguns supervisores, diretores e colegas professores de outras disciplinas. Muitos têm tratado o programa do Gestar com certo desprezo e indiferença. Diante disso, pergunta-se: Qual é mesmo o papel do diretor e do supervisor? Convém lembrar que a resposta para essa pergunta é muito óbvia, ou pelo menos poderia ser.
A princípio, o diretor e o supervisor educacional representam as pessoas que procuram direcionar o trabalho pedagógico na escola em que atuam para que se efetive a qualidade em todo o processo educacional. Sabe-se que tais profissionais são servidores especializados em manter a motivação do corpo docente. Devem ser idealistas, definindo claramente que caminhos tomar, que papéis se propõem a desempenhar, buscando constantemente ser transformadores, trabalhando em parceria, integrando a escola e a comunidade na qual se inserem. Seria tão belo se realmente essa teoria se aplicasse plenamente na prática.
Um dos assuntos mais polêmicos da atualidade e que vem sendo amplamente discutido é a educação, no seu sentido de formação humana. Educar é uma tarefa que exige comprometimento, perseverança, autenticidade e continuidade. As mudanças não se propagam em um tempo imediato, por isso, as transformações são decorrentes de ações. No entanto, as ações isoladas não surtem efeito. É preciso que o trabalho seja realizado em conjunto, do qual todos participem em prol de uma educação de qualidade baseada na igualdade de direitos.
Nossa, Ednília, que relatório e encontro perfeitos!!
ResponderExcluirEstou sem palavras diante de um relatório tão vivo, resultado dos sentimentos, das reflexões, dos estudos, das experiências, das ações de todos vocês! Parabéns!
Como é maravilhos saber que o Gestar já está incorporado à prática dos professores, fundem-se!
Diante de sua tristeza e de seu desabafo, também me entristeço e me arrisco perguntar: será que você e a secretária de educação visitando as escolas ou fazendo uma reunião com diretores e supervisores não ajudariam a melhorar esse convívio e conquistariam essas pessoas como parceiros de vocês, dos professores, do município e do Gestar?!
Fico aguardando as novidades e a resposta...
Um abraço fraterno.