“O estudo da gramática não faz poetas. O estudo da harmonia não faz compositores. O estudo da psicologia não faz pessoas equilibradas. O estudo das "ciências da educação" não faz educadores. Educadores não podem ser produzidos. Educadores nascem. O que se pode fazer é ajudá-los a nascer.” (Rubem Alves)
Com essas palavras de Rubem Alves quero iniciar este relatório de forma bastante emotiva, porque é o que sinto no retorno a esse encontro do Gestar. Nos dias 24, 25, 26, 27 e 28 de agosto, nos reunimos na cidade de Montes Claros para nosso segundo encontro de formadores do Gestar. Estava bastante apreensiva pois sabia que teríamos outra formadora, não a conhecíamos e isso me tirava um pouco a tranquilidade. Mas a vida nos guarda muitas surpresas e uma delas foi ter nos presenteado com a vinda da Guiana, que superou todas as minhas expectativas. Sem ela, esse encontro não teria a mesma cor nem o mesmo sabor e gostinho de quero mais. Pelas mãos de Guiana vi ali tecer os fios de afeto, dedicação, doação, partilha, companheirismo, compreensão, segurança, paz, harmonia, solidariedade. A princípio, os fios se embaralharam, enrolaram-se, havia muitos nós, mas depois se entrelaçaram, de modo que, no final do encontro, tínhamos o que não havíamos conseguido no primeiro: a interação entre o grupo. Nosso grupo era bem pequeno e nos permitiu maior interação. A teia tecida e enaltecida se fez presente entre nós.
No primeiro dia do nosso encontro, a nossa Formadora nos proporcionou um momento para que cada um se apresentasse expondo o seu trabalho como formador do Gestar. Foi um momento ímpar, de muita interação, desabafo, troca e socialização. Foi um momento que muito me sensibilizou e me fez refletir sobre o quanto a educação ainda não é prioridade do poder público. Alguns relatos me deixaram triste e desmotivada, outros porém me foram bastante motivadores.
Participar do 2º encontro do Gestar proporcionou-me rica contribuição no sentido de possibilitar uma reflexão sobre as necessidades de mudanças e novas buscas para melhoria da educação. Não podemos ficar alheios ao surgimento desse mundo novo, fruto de inovação tecnológica, da informática e da sempre mais rápida e crescente comunicação. A educação precisa se adequar a essas mudanças. Para tanto, busca-se um novo caminho, um jeito novo de caminhar.
A nossa participação no Gestar é um privilégio para nós educadores, especialmente no momento em que estamos passando por tantas incertezas, pois precisamos perceber essa necessidade de mudanças e de reconstrução de nossas práticas, dar conta do nosso papel dentro deste cenário que se descortina à nossa frente. A educação é o processo pelo qual o sujeito produz a si mesmo como ser humano, individual e coletivo. Tornar-se humano é tarefa difícil, exigente e o educador é aquele que, ao se construir como sujeito, se dispõe a auxiliar o outro, o educando, na tarefa de construção de si mesmo. Por isso nunca estamos prontos ou acabados, pois estamos sempre em construção, reconstrução e transformação.
No decorrer de nossos encontros ao longo da semana, ia me certificando de que, com o Gestar, temos o poder da mudança em nossas mãos e podemos fazer muito pela melhoria da educação. O trabalho de educar exige envolver-se com o conhecimento e com o processo de desenvolvimento humano. Exige que se trabalhe com o conhecimento - ferramenta indispensável à nossa vida prática na sociedade - necessário para alimentar nossa alma e para a realização de nossos sonhos. Realizar bem este trabalho requer saber lidar bem com a própria autoestima, pois fica muito difícil ser educador sem gostar de si mesmo, sem se envolver apaixonadamente com o processo de construção da própria existência, sem amar os próprios sonhos.
Cada encontro a cada dia da semana de formação permitia-me buscar mudanças, aperfeiçoar-me, crescer enquanto profissional, fazer um balanço crítico do meu trabalho. Tenho plena convicção de que o Gestar motivou-me a trabalhar com mais otimismo e alegria, a não me desanimar diante das dificuldades, a acreditar no potencial humano, a saber acolher os valores da vida e da história, a valorizar as múltiplas inteligências de nossos educandos.
O Gestar vem para reafirmar que o trabalho educativo é e sempre será uma fonte inesgotável de aprendizagem. Basta querer aprender. O automatismo e a rotina fazem com que experiências valiosas se percam por falta de sensibilidade, interesse e sutileza do educador em captá-las e delas fazer a matéria de seu crescimento, como pessoa, como profissional e como cidadão. Quando a experiência do dia-a-dia é valorizada, a rotina se transmuda em aventura.
Relacionar-se de maneira significativa com adolescentes em dificuldade é alguma coisa que, a partir de uma consistente disposição interior, pode ser aprendida. Esse aprendizado nasce do entendimento e do treino.
Capacidades como aprender com os próprios erros, aceitar o outro como ele é e interessar-se pelas potencialidades e limites de cada adolescente são requisitos mais importantes que a coragem, o heroísmo e o zelo extremo que parecem ser a marca de educadores tidos, às vezes, como pessoas fora do comum, educadores capazes de atuar de forma excepcional frente a situações, as mais difíceis.
Com tudo isso que consegui absorver e repensar através do Gestar, tive a preocupação e o cuidado de me transpor para minha realidade, realidade de nossa escola, de nossos alunos. E o primeiro e mais decisivo passo para vencer as dificuldades pessoais é o desejo de fazer sempre o melhor.
Na verdade, o desempenho que devemos esperar de um educador tecnicamente preparado é que ele use o bom senso para evitar situações que venham requerer mobilizações extremas de habilidades e sentimentos. Para isso, faz-se necessário um esforço consciente e sincero de apegar-se ao quotidiano de forma atenta e criativa.
Refletir sobre os acontecimentos comuns do dia-a-dia nos parece o melhor dos caminhos. Quando incorporamos este tipo de atitude, já não somos vítimas do tédio e do aborrecimento, porque continuamente estaremos fazendo descobertas sobre nossos educandos e sobre nós mesmos. Sem isso, nos condenamos à rotina, à autocomplacência e ao desinteresse.
Na ação educativa, a linha que separa o sucesso do fracasso é tênue, quase imperceptível, e tende a deslocar-se com as oscilações das realidades internas e externas do educador e do educando. Limitações existem em qualquer aspecto da relação entre quem ajuda e quem é ajudado. Algumas são superáveis, outras nos convidam a conviver com elas, aprendendo a conhecê-las e a neutralizar ou reverter os seus impactos sobre o processo de mudança e crescimento no qual, por opção e dever, estamos sempre empenhados. Espero que consiga passar para meus professores cursistas este mesmo entusiasmo e otimismo e esta forte convicção de que estamos no caminho certo.
Belo relato. Corajoso, forte, verdadeiro. Assumir que não estamos prontos, estamos sempre aprendendo requer a coragem de olhar para dentro de si e de olhar para as necessidades do outro.
ResponderExcluirSucessos na 2ª etapa.
Beijão,
Cida de Caetanópolis.
Nossa, que rapidez! Isso é sinal de uma pessoa totalmente interligada com esse mundo tecnológico, de comunicação rápida...
ResponderExcluirConscientizar-se da existência dessa linha tênue que perpassa o processo de educação e de conquista educador-educando é um dos maiores aprendizados de quem se constrói e se faz educador a cada momento e experiência vivida.
Suas palavras me emocionaram durante todo o seu blog! Você conseguiu (e ainda consegue) acreditar em todo o processo em que se encontra; defender seus pontos de vista; driblar os obstáculos; viver, ser e construir-se educadora, mesmo, a princípio, não sendo esse o seu ideal. Que as linhas que você viu juntando todos os momentos de nossa 2ª formação possam ser também uma de suas ferramentas para continuar tecendo seu ser real/essencial, que se consquistou e que conquista oportunidades tão diversas num caminho que, para você, poderia até parecer a única opção...
Um abraço com gostinho de saudade.
Ednília,
ResponderExcluirvocê conseguiu, através das palavras, expressar todo nosso sentimento.
Parabéns!!!!!!!
Obrigada a todos que foram gentis e carinhosos por postaram seus comentários em meu blog. Fico feliz sabendo que, de alguma forma, esse espaço de múltiplas linguagens tem se transformado na linguagem dos múltiplos.
ResponderExcluirEdinília
Parabéns! Sempro aprendo muito visitando seu blog.
ResponderExcluir