domingo, 30 de agosto de 2009

Relatório Reflexivo – Encontro de Formadores -Circuito em trans(forma) ação


“O estudo da gramática não faz poetas. O estudo da harmonia não faz compositores. O estudo da psicologia não faz pessoas equilibradas. O estudo das "ciências da educação" não faz educadores. Educadores não podem ser produzidos. Educadores nascem. O que se pode fazer é ajudá-los a nascer.” (Rubem Alves)

Com essas palavras de Rubem Alves quero iniciar este relatório de forma bastante emotiva, porque é o que sinto no retorno a esse encontro do Gestar. Nos dias 24, 25, 26, 27 e 28 de agosto, nos reunimos na cidade de Montes Claros para nosso segundo encontro de formadores do Gestar. Estava bastante apreensiva pois sabia que teríamos outra formadora, não a conhecíamos e isso me tirava um pouco a tranquilidade. Mas a vida nos guarda muitas surpresas e uma delas foi ter nos presenteado com a vinda da Guiana, que superou todas as minhas expectativas. Sem ela, esse encontro não teria a mesma cor nem o mesmo sabor e gostinho de quero mais. Pelas mãos de Guiana vi ali tecer os fios de afeto, dedicação, doação, partilha, companheirismo, compreensão, segurança, paz, harmonia, solidariedade. A princípio, os fios se embaralharam, enrolaram-se, havia muitos nós, mas depois se entrelaçaram, de modo que, no final do encontro, tínhamos o que não havíamos conseguido no primeiro: a interação entre o grupo. Nosso grupo era bem pequeno e nos permitiu maior interação. A teia tecida e enaltecida se fez presente entre nós.

No primeiro dia do nosso encontro, a nossa Formadora nos proporcionou um momento para que cada um se apresentasse expondo o seu trabalho como formador do Gestar. Foi um momento ímpar, de muita interação, desabafo, troca e socialização. Foi um momento que muito me sensibilizou e me fez refletir sobre o quanto a educação ainda não é prioridade do poder público. Alguns relatos me deixaram triste e desmotivada, outros porém me foram bastante motivadores.

Participar do 2º encontro do Gestar proporcionou-me rica contribuição no sentido de possibilitar uma reflexão sobre as necessidades de mudanças e novas buscas para melhoria da educação. Não podemos ficar alheios ao surgimento desse mundo novo, fruto de inovação tecnológica, da informática e da sempre mais rápida e crescente comunicação. A educação precisa se adequar a essas mudanças. Para tanto, busca-se um novo caminho, um jeito novo de caminhar.

A nossa participação no Gestar é um privilégio para nós educadores, especialmente no momento em que estamos passando por tantas incertezas, pois precisamos perceber essa necessidade de mudanças e de reconstrução de nossas práticas, dar conta do nosso papel dentro deste cenário que se descortina à nossa frente. A educação é o processo pelo qual o sujeito produz a si mesmo como ser humano, individual e coletivo. Tornar-se humano é tarefa difícil, exigente e o educador é aquele que, ao se construir como sujeito, se dispõe a auxiliar o outro, o educando, na tarefa de construção de si mesmo. Por isso nunca estamos prontos ou acabados, pois estamos sempre em construção, reconstrução e transformação.

No decorrer de nossos encontros ao longo da semana, ia me certificando de que, com o Gestar, temos o poder da mudança em nossas mãos e podemos fazer muito pela melhoria da educação. O trabalho de educar exige envolver-se com o conhecimento e com o processo de desenvolvimento humano. Exige que se trabalhe com o conhecimento - ferramenta indispensável à nossa vida prática na sociedade - necessário para alimentar nossa alma e para a realização de nossos sonhos. Realizar bem este trabalho requer saber lidar bem com a própria autoestima, pois fica muito difícil ser educador sem gostar de si mesmo, sem se envolver apaixonadamente com o processo de construção da própria existência, sem amar os próprios sonhos.

Cada encontro a cada dia da semana de formação permitia-me buscar mudanças, aperfeiçoar-me, crescer enquanto profissional, fazer um balanço crítico do meu trabalho. Tenho plena convicção de que o Gestar motivou-me a trabalhar com mais otimismo e alegria, a não me desanimar diante das dificuldades, a acreditar no potencial humano, a saber acolher os valores da vida e da história, a valorizar as múltiplas inteligências de nossos educandos.

O Gestar vem para reafirmar que o trabalho educativo é e sempre será uma fonte inesgotável de aprendizagem. Basta querer aprender. O automatismo e a rotina fazem com que experiências valiosas se percam por falta de sensibilidade, interesse e sutileza do educador em captá-las e delas fazer a matéria de seu crescimento, como pessoa, como profissional e como cidadão. Quando a experiência do dia-a-dia é valorizada, a rotina se transmuda em aventura.

Relacionar-se de maneira significativa com adolescentes em dificuldade é alguma coisa que, a partir de uma consistente disposição interior, pode ser aprendida. Esse aprendizado nasce do entendimento e do treino.

Capacidades como aprender com os próprios erros, aceitar o outro como ele é e interessar-se pelas potencialidades e limites de cada adolescente são requisitos mais importantes que a coragem, o heroísmo e o zelo extremo que parecem ser a marca de educadores tidos, às vezes, como pessoas fora do comum, educadores capazes de atuar de forma excepcional frente a situações, as mais difíceis.

Com tudo isso que consegui absorver e repensar através do Gestar, tive a preocupação e o cuidado de me transpor para minha realidade, realidade de nossa escola, de nossos alunos. E o primeiro e mais decisivo passo para vencer as dificuldades pessoais é o desejo de fazer sempre o melhor.

Na verdade, o desempenho que devemos esperar de um educador tecnicamente preparado é que ele use o bom senso para evitar situações que venham requerer mobilizações extremas de habilidades e sentimentos. Para isso, faz-se necessário um esforço consciente e sincero de apegar-se ao quotidiano de forma atenta e criativa.

Refletir sobre os acontecimentos comuns do dia-a-dia nos parece o melhor dos caminhos. Quando incorporamos este tipo de atitude, já não somos vítimas do tédio e do aborrecimento, porque continuamente estaremos fazendo descobertas sobre nossos educandos e sobre nós mesmos. Sem isso, nos condenamos à rotina, à autocomplacência e ao desinteresse.

Na ação educativa, a linha que separa o sucesso do fracasso é tênue, quase imperceptível, e tende a deslocar-se com as oscilações das realidades internas e externas do educador e do educando. Limitações existem em qualquer aspecto da relação entre quem ajuda e quem é ajudado. Algumas são superáveis, outras nos convidam a conviver com elas, aprendendo a conhecê-las e a neutralizar ou reverter os seus impactos sobre o processo de mudança e crescimento no qual, por opção e dever, estamos sempre empenhados. Espero que consiga passar para meus professores cursistas este mesmo entusiasmo e otimismo e esta forte convicção de que estamos no caminho certo.
Edinília

5 comentários:

  1. Belo relato. Corajoso, forte, verdadeiro. Assumir que não estamos prontos, estamos sempre aprendendo requer a coragem de olhar para dentro de si e de olhar para as necessidades do outro.

    Sucessos na 2ª etapa.
    Beijão,
    Cida de Caetanópolis.

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  2. Nossa, que rapidez! Isso é sinal de uma pessoa totalmente interligada com esse mundo tecnológico, de comunicação rápida...

    Conscientizar-se da existência dessa linha tênue que perpassa o processo de educação e de conquista educador-educando é um dos maiores aprendizados de quem se constrói e se faz educador a cada momento e experiência vivida.
    Suas palavras me emocionaram durante todo o seu blog! Você conseguiu (e ainda consegue) acreditar em todo o processo em que se encontra; defender seus pontos de vista; driblar os obstáculos; viver, ser e construir-se educadora, mesmo, a princípio, não sendo esse o seu ideal. Que as linhas que você viu juntando todos os momentos de nossa 2ª formação possam ser também uma de suas ferramentas para continuar tecendo seu ser real/essencial, que se consquistou e que conquista oportunidades tão diversas num caminho que, para você, poderia até parecer a única opção...
    Um abraço com gostinho de saudade.

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  3. Ednília,
    você conseguiu, através das palavras, expressar todo nosso sentimento.
    Parabéns!!!!!!!

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  4. Obrigada a todos que foram gentis e carinhosos por postaram seus comentários em meu blog. Fico feliz sabendo que, de alguma forma, esse espaço de múltiplas linguagens tem se transformado na linguagem dos múltiplos.
    Edinília

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  5. Parabéns! Sempro aprendo muito visitando seu blog.

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